O meu nome é Tânia tenho 33 anos e sou mãe de uma princesa
do Kastelo, a Melissa de 3 anos. A Melissa foi uma criança muito desejada, que
nasceu numa noite de Dezembro em que chovia torrencialmente. Quando a vi pela primeira vez o mundo transformou-se, ela era tão linda, tinha imenso cabelo, cabelo
forte e preto, olhos rasgados, e tinha uma bochechas maravilhosas que só dava
vontade de apertar. Um dia depois do seu nascimento informaram-me que a minha
princesa tinha de fazer fototerapia porque tinha falta de vitamina D. Nesse dia
começou o meu sofrimento de mãe, ela tinha de estar numa incubadora com os
olhos vendados com uns óculos, para a luz não lhe afectar os olhos, teve de lá
estar 24 horas. A Melissa passou essas 24 horas sempre a chorar e ainda por
cima os óculos estavam sempre a sair do sítio e eu cheia de medo que aquilo lhe
pudesse afectar a sua visão. Como devem imaginar eu também passei essas 24 horas
a chorar, era um sofrimento enorme, uma frustração querer agarrar a minha
filha, dar-lhe carinho dar-lhe amor e não poder, ela tinha de estar ali.
Estivemos 5 dias no hospital e depois regressamos a casa,
parecia que estava a viver um sonho, o sonho mais bonito que uma mulher pode
ter. Tinha uma filha maravilhosa, saudável e tranquila. Os meses foram passando
a Melissa foi crescendo tudo na mais perfeita harmonia. Aos 6 meses foi para a
creche, a adaptação foi boa, aos 7 meses começa a dizer papá, aos 8 meses mamã
e aos 9 meses começou a gatinhar, tudo na mais perfeita normalidade.
Até que aos 17 meses uma amiga minha (que é como uma irmã),
a Tânia, se senta ao pé de mim muito nervosa e diz-me que precisamos de falar
sobre a nossa menina, ali o meu coração parou. É que a Melissa até aquele
momento ainda não andava, não batia palminhas, não apontava para as coisas a
demonstrar o que queria, não fazia nada do que as crianças da sua idade faziam.
Nós nunca demos importância a isso porque a Melissa era seguida por uma
pediatra particular, pela médica de família e também andava na creche, onde
pessoas com bastante experiência sempre me disseram que a Melissa não fazia
porque não queria, que ela era mas é malandra, que não havia nada com que me
preocupar porque cada criança tem o seu tempo. E com isso eu ia-me convencendo,
até aquela tarde, que a minha amiga me chama à atenção, que o atraso de
desenvolvimento da minha princesa não era normal. Nessa mesma tarde ela já
tinha pesquisado uma médica especialista em desenvolvimento, ligamos logo para
marcar uma consulta.
Passados alguns dias fomos à consulta, a Dra. Dulce foi uma
profissional excelente. Ela disse-nos que havia sim um atraso considerável, mas
se podia dar ao facto de a Melissa andar sempre muito congestionada do nariz, e
por consequência lhe afectar a audição. Aí o meu coração ficou mais tranquilo porque
fazendo um tratamento, ou na pior das hipóteses submetendo-a a uma pequena
cirurgia, ela iria recuperar o atraso, pensávamos nós.
Para percebermos o real atraso de desenvolvimento da nossa
filha, eu e o meu marido decidimos procurar um profissional de intervenção
precoce a Mitó. A Mitó foi um anjo que me apareceu na vida. Após 3 horas de
avaliação, a Mitó consegue ter bases para fazer um teste de avaliação do
desenvolvimento adaptado “Schedule of Growing Skills II”e foi-nos revelado que
a Melissa apresentava um atraso no desenvolvimento de 10 meses, ou seja, a
minha filha tinha o desenvolvimento de uma criança de apenas 8 meses. Quando me
dei conta do tamanho do atraso da minha filha, o meu mundo fugiu-me debaixo dos
meus pés, fiquei sem chão. Começamos logo a trabalhar com a Mitó 1 vez por
semana. Ela ensinou-nos tácticas e exercícios para trabalhar com a nossa filha.
Passado 2 semanas a minha esperança e alegria voltavam a brilhar, a minha
princesa começa, finalmente, a andar. Mas a minha alegria dura pouco, alguns
dias depois a Melissa teve uma paralisia facial, sem explicação. Fomos para as
urgências onde a minha princesa é encaminhada logo para a fisioterapia. Mais
uma vez tivemos sorte com a profissional, é uma senhora que tem bastante
experiência em lidar com crianças com problemas e deficiências. A
fisioterapeuta Dulce, que é esse o seu nome, começou-nos a fazer algumas
perguntas para pudermos descobrir de onde poderia ter surgido aquela paralisia,
onde numa das questões ela nos perguntava se a Melissa tinha convulsões, eu e o
meu marido, olhamos um para o outro com um ar muito estranho, por a terapeuta
nos estar a fazer aquela pergunta. Respondemos de imediato que não, que a nossa
filha até ali tinha sido sempre saudável, onde ela nos explica que convulsões
não são só aquelas que a pessoa cai e fica a estrebuchar, que também as pessoas
têm pequenas ausências, que isso também é resultado de uma convulsão. Isso nós
realmente verificávamos, que a Melissa fazia, mas como era coisa de segundo não
ligamos. Nesse mesmo dia ligamos à Mitó a perguntar o que ela nos aconselhava a
fazer. Disse-nos que o melhor a fazer seria ter uma consulta com a neuro pediatra, que ela melhor que ninguém nos podia ajudar, e assim o fizemos.
Fomos à consulta onde ela observa a Melissa e nos manda
fazer um EEG no hospital pediátrico. No dia 30 de Agosto de manhã lá estávamos
nós, lembro-me perfeitamente desse dia porque era o dia em que celebrávamos 3
anos de casados. Passado 2 horas da minha princesa fazer o exame somos novamente
chamados pela neuro pediatra para conhecermos o resultado, e sim a minha filha
tinha uma encefalopatia epilética/epilepsia com ausências e mioclonias que
ocorriam quando ela estava a dormir. Foi por isso que nunca demos conta. Esse
foi o dia mais triste da minha vida, a minha filha tinha epilepsia e é para
toda a vida, mas para além disso a epilepsia era causa de outra doença, ou
seja, ainda havia mais para descobrir. Chorei tanto no caminho todo até casa.
Por mais que me esforçasse não conseguia impedir as lágrimas caírem pelos olhos
abaixo. Nesse mesmo dia fomos encaminhados para uma consulta de genética, para
ver se descobríamos o que estava a provocar a epilepsia. Foi-lhe recolhido
sangue para fazer umas análises fora do país.
A partir daí a Melissa começa a tomar medicação para a
epilepsia e passado pouco mais de duas semanas a minha princesa perde o andar.
Ficamos desesperados, sem saber como poderíamos ajuda-la, mas a única coisa que
podia ser feito era fisioterapia para evitar que a Melissa regredisse mais.
Cerca de um mês mais tarde a minha princesa começa a perder cada vez mais as
suas faculdades, desta vez tinha deixado de gatinhar, tinha perdido o interesse
pelos brinquedos. Mais uma vez o desespero predominava na minha vida. Foi nessa
mesma altura que eu comecei a questionar se havia Deus, se havia onde é que ele
estava agora no momento em que mais precisava dele? O que eu tinha feito de tão
grave para ele me punir assim? Porquê a minha filha? Essas eram as perguntas
que eu me fazia.
O tempo foi passando a nossa angústia foi aumentando, a
Melissa a regredir cada vez mais e nada dos resultados da genética. Foi então
que a neuro pediatra nos mandou fazer uma R.M ao crânio para ver se conseguia
alguma coisa que ajudasse no diagnóstico. Esperamos dois meses pelo exame,
esperançosos que este nos revela-se alguma coisa. No dia do exame, quando lá
chegamos, é nos informado a mim e à Tânia que a Melissa não poderia fazer o
exame porque havia greve dos técnicos de saúde. Não! Não aquilo não poderia
estar a acontecer! Entramos logo em desespero a minha filha já estava sem comer
desde as 8 da manhã, já eram 14 horas e a minha filha sem nada no estômago e a
angústia que ia nos nossos corações sem saber se a Melissa poderia ter alguma
coisa na cabeça fatal.
Este foi sem dúvida o pior dia da minha vida, eu ali com a
minha filha nos braços, a Tânia a pedir e a implorar pelo amor de Deus para nos
ajudarem para fazerem o maldito exame à minha filha, e a dizerem-nos que não
podia fazer nada. A minha impotência, a minha dor era tão grande. Eu e a Tânia
chorávamos baba e ranho, e ninguém nos queria ajudar, eu sei que eles estavam a
lutar pelos direitos deles, mas eu estava desesperada e só queria ajudar a
minha filha. Foi então que me lembrei de ligar à neuro pediatra, para ver se
ela me podia ajudar. Ela disse para não arredar pé de lá, que ia ver o que
conseguia fazer. Não se bem como, mas ela conseguiu. Veio logo uma enfermeira a
dizer para aguardar 1 hora que o anestesista estava ocupado, mas que já vinha
para cima. E assim foi passado 2 horas dizem-me que eu já podia ir ver a minha
filha. Ela está ainda a dormir, parecia um anjo, tão linda, tão pura. Logo de
seguida entra a Dra. que fez a RM e nos diz que a nossa princesa não tinha anda
de anormal, nenhuma malformação no cérebro. Foi sem dúvida a melhor noticia que
eu ouvi em toda a minha vida, já podíamos respirar de alívio quanto a essa
questão.
Entretanto em Dezembro a minha princesa é submetida a uma
operação para colocar uns drenos nos ouvidos é-lhe então realizada uma
adenoidectomia e uma miringotomia. A operação correu muito bem, passado poucas
semanas já se notava a grande diferença na audição da Melissa. Já nos prestava
atenção quando a chamamos. O fim do ano já estava mesmo a achegar e eu só pedia
a Deus para o próximo não ser tão pesado como este.
Entretanto chegaram os resultados da genética, mas não
tinham descoberto nada, teriam de voltar a fazer exames. No início do ano a
neuro pediatra decide que deveríamos fazer uma punção lombar. A neuro pediatra
da Melissa sempre foi uma pessoa que fazia tudo para tentar ajudar no
diagnóstico da doença. Sempre esteve disponível para nos ajudar ou esclarecer
qualquer dúvida que nós tivéssemos de noite ou de dia, sempre muito dedicada.
Este exame também não nos revela nada. Não havia ali qualquer indício por um
lado graças a Deus! O tempo foi passando e a Melissa cada vez mais a perder a
sua autonomia. Era frustrante não termos nenhuma maneira de ajudarmos a nossa
filha que já nem de pé se conseguir pôr.
No final de maio a Melissa começa a ter crises do choro a
meio da noite, nem eu nem o meu marido a conseguíamos acalmar. Foram muitas
noites em que eu ou ele saíamos de casa às 3 da manhã para passear de carro com
ela para ver se ela adormecia novamente. O pior é que ela também começou a ter
essas crises na creche. Ligavam para o meu trabalho para eu ir buscar a minha
filha porque não a conseguiam acalmar. Fui várias vezes para o hospital, para
ver se poderia ter alguma coisa, faziam todos os exames e nada. E no outro dia
acontecia a mesma coisa. A minha sorte é que a minha entidade patronal sempre
esteve do meu lado, sempre me apoiaram no que precisava, desde horários
flexíveis, de ter de faltar para ir a várias consultas e exames que a Melissa
tinha, nunca me puseram objecção nenhuma. Mas aquela situação já estava a ser demais,
ligavam-me quase todos os dias no final da manhã ou no início da tarde para ir
buscar a minha filha. Isto tudo estava a dar comigo em doida, acordar a meio da
noite com ela aos gritos, os telefonemas da creche para ir busca-la, tentar
conciliar o trabalho com as consultas, estava a ser demais. Foi então que
decidi pôr baixa para acompanhamento ao filho por doença crónica, foi a melhor
decisão, já tinha tempo para a minha filha, tinha tempo para mim e também já
tinha tempo para o meu marido porque as coisas entre nós também não estavam
fáceis. A nossa frustração, a nossa ansiedade e nervosismo geravam muitas
discussões entre nós, por vezes por motivos irrisórios. Não é à toa que 90% dos
casais com filhos com problemas de saúde se separam. O tempo foi passando, a
Melissa sempre com muitas consultas, até que temos uma de fisiatria em que o
fisiatra, sem saber que nós ainda não conhecíamos os resultados dos exames de
genética, nos diz que estavam a suspeitar de síndrome de Rett. Assim que acabamos a consulta, levo a Melissa
para a fisioterapia e no telemóvel pesquiso sobre essa síndrome. As
lágrimas começam automaticamente a descerem-me pela cara. Tudo o que estava
escrito eram sintomas da minha princesa. A regressão a partir dos 18 meses, no
andar, no verbalizar, a perda de interesse pelos seus brinquedos e
descoordenação nos movimentos das mãos, e as crises de choro a meio da noite.
Tudo aquilo fazia parte da doença, mas aquilo em que mais me concentrei foi o
facto da esperança média de vida ser até aos 60 anos. Isso para mim já me dava
força para continuar a lutar.
Dois dias depois tivemos a consulta de genética e de
neurologia ao mesmo tempo. Foi então confirmado, foram bastantes choros. A
Melissa nunca vai falar e não sabemos se um dia vai andar. As lágrimas
escorriam-me pela cara, mais uma vez, e mais uma vez eu me questionava porquê a
mim? Porquê a minha filha, uma criança inocente? Isto acontece 1 em casa 10.000
meninas, porquê justo com a minha princesa.
A síndrome de Rett é uma desordem do desenvolvimento
neurológico no cromossoma X que acontece em maioria das vezes em meninas porque
os meninos, eles não resistem e acabam por morrer logo à nascença. É uma doença
que foi descoberta há relativamente pouco tempo, por isso ainda não existe cura
nem tratamento.
Neste meio tempo foi então que ouvi falar no Kastelo, um
lugar com terapias diárias, onde eu poderia estar internada e a assistir a toda
a evolução da minha filha, com profissionais capacitado e empenhados aa dar o
seu melhor pelas vidas destas crianças. Um reino encantado para príncipes e
princesas, que nos ajudam a nós pais a recuperar a alegria de viver.
Tânia, Mãe da Melissa
Tânia, Mãe da Melissa
És uma guerreira 💖
ResponderEliminarGrandes pais linda menina. Obrigado pelo privilégio de poder conhecer a linda Melissa
ResponderEliminarWoooo! Grata pela partilha!*
ResponderEliminarwoooo! grata pela partilha! Bjs, Ana TO
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